De olho no mercado em potencial, a empresa se mostra disposta a seguir as ordens do governo chinês e oferecer uma versão limitada de seu buscador. A proposta prevê o bloqueio de alguns sites e termos relacionados a assuntos como direitos humanos, democracia e religião.
A informação é do The Intercept, que teve acesso a documentos sigilosos do Google. Eles tratam do DragonFly, como é chamado o projeto de desenvolvimento de uma versão do buscador para Android voltada ao país asiático. Ele ganhou fôlego no final do ano passado após o encontro entre o CEO do Google, Sundar Pichai, e o Wang Huning, um dos líderes do Partido Comunista Chinês e conselheiro do presidente Xi Jinping em assuntos ligados a política externa. A versão alternativa do buscador já foi apresentada ao governo chinês e, se aprovada, pode ser lançada em um prazo de seis a nove meses. Com ela, a empresa cumpriria as obrigações estabelecidas pelo governo. A principal delas é restringir o acesso às páginas banidas. Isso envolve certos sites de oponentes políticos, estudos acadêmicos e notícias, além daqueles que tratam de temas como sexo e liberdade de expressão. Essas páginas seriam removidas tanto da busca convencional, quanto de pesquisas por imagem, sugestões de busca e verificação ortográfica. Em vez de mostrá-las, o Google exibirá um aviso indicando que “alguns resultados podem ter sido removidos devido a exigências legais”. O impedimento seria semelhante ao estabelecido ao Weibo, a maior rede social no país. A plataforma, por exemplo, não pode ter menções a livros que questionam governos autoritários, como 1984 e A Revolução dos Bichos, ambos de George Orwell. Um dos motivos para sua liderança é a ausência de redes como Instagram, Facebook e Twitter, que também são bloqueadas pelo governo. Ainda não está claro se o Google lançará uma versão censurada do buscador para desktop. O objetivo inicial é liberar o aplicativo no Android. Afinal, o sistema operacional responde por 80% do mercado chinês. Ainda segundo o The Intercept, a operação deverá ser realizada no formato de uma joint venture com uma companhia baseada na China. No entanto, a maior parte do trabalho já está sendo realizada no escritório da empresa em Mountain View, na Califórnia. Desde 2010, o Google não pode ser acessado pelos usuários na China graças ao que é conhecido como o Grande Firewall. Depois de sofrer diversas críticas nos Estados Unidos, a empresa decidiu deixar de oferecer os serviços no país. Na ocasião, a empresa citou justamente a atuação do governo chinês como justificativa. A posição parece ter mudado após a chegada de Pichai ao comando da empresa. Para o executivo, o país de 750 milhões de usuários pode contribuir com um aumento significativo das receitas.